Crescidos
em uma sociedade hierarquizada pela pobreza e ignorância cristã. Meras
reproduções esperneando em um ciclo medíocre, uma tentativa ingênua de escape.
Subterfúgios de uma revolta adolescente destoada do tempo. Frases feitas, atos
impensados, planos atravessados e inconclusos. Vazio. Falsa segurança, falsa
estabilidade, falsa sabedoria, falso intelectualismo, falsa insensibilidade.
Verdadeira agonia. Grito, queda e rendição negados. Tolice.
O
desdém desmedido revelando completa melancolia. Consciência de sua ínfima
posição estagnada. Mãos atadas. Descaso como proteção. O culto ao nada como
mecanismo de defesa. Hipocrisia. Para ser Epícuro, precisa-se mais que
desapego. Só se pode adorar Baco quem não se importa com Atena. Do contrário,
falsa propaganda.
Tentativas
e de novo. A negação do obvio, do premeditado, do ditado, do imposto, do
simples. Vociferando filosofias baratas, cuspindo bem-estar, encobrindo o
conservadorismo inerente, a caretice herdada e reproduzida. A liberdade mal
interpretada ganhando premio de melhor trilha sonora. O orgulho do nada, a
superficialidade vestida, a pura sobrevivência à falta de mobilidade, de
opções, de desejos sinceros, em meio ao lixo, ao escarrado. Fuga em círculos.
A
graça tão pobre e tão mentirosa. O momento-paz tão ilusório. A felicidade nunca
tão efêmera. A memória, enquanto efemeridade materializada, é inimiga do
instante que passa. Então, a noção de tempo perde-se atingindo o esperado. As
possibilidades, os livros, os discos, os quadros, as garrafas, o culto doentio
pelo fugaz. O fugaz é belo porque a memória não o guarda no baú das
assombrações, junto com os flashes da infância. Neste caso, o fugaz, entidade
louvável, é mal cultuado.
O
conformismo é mais sincero que a luta mal desejada. Ambos repugnantes. Cada um
correndo em vão, num caminho curvilíneo com destino à reprodução do sempre.
Determinismo aparente e bem-vindo no fundo, no fundo.
Jessica Gasparini Martins
Jessica Gasparini Martins